Projeto garante escolaridade e formação técnico-agrícola a comunidades interioranas

“Pela necessidade de trabalhar e auxiliar no sustento da minha família, abandonei os estudos aos 16 anos. Hoje, com 31, tive a oportunidade de voltar à sala de aula, concluir o ensino fundamental e ainda receber noções de conhecimentos agrícolas, ramo no qual eu atuo há vários anos”. Esse é o relato de Carlos Neves Lopes, morador da comunidade rural do Lago do Limão, no município de Iranduba. Ele e mais 599 amazonenses estão concluindo a formação do ‘Projovem Campo’, programa educacional do Governo Federal voltado para comunidades rurais e que no Amazonas é coordenado pela Secretaria de Estado de Educação (Seduc).
 
Para Carlos, a iniciativa de associar o ensino fundamental à formação técnico-agrícola foi o fator motivacional que o fez voltar aos estudos. “Para garantir o sustento de minha esposa e meu filho de 10 anos tenho uma horta onde cuido do plantio e da colheita de gêneros como cheiro-verde, pimentão, cebolinha, tomate e pepino. Quando soube que o ‘Projovem’ ofereceria o ensino e formação direcionada a esta área agrícola, abracei a oportunidade”, revelou.  
 
 
Carlos Neves Lopes participa do Projovem e voltou aos estudos após mais de dez anos parado.
 
Com aulas aplicadas sempre aos sábados e carga horária de 2.400 horas, as atividades do programa têm um viés social procurando apresentar ao homem do campo os benefícios do estudo e do conhecimento especializado na área em que já atua.
 
Segundo o representante da Seduc e coordenador estadual de ‘Educação do Campo’, professor Antônio Menezes da Costa, a contribuição social do projeto, em especial para o Amazonas, é muito grande. “Com o curso, as pessoas passam a ter e a reconhecer sua dignidade. Além de providenciar a escolaridade, adormecida pela necessidade de se dedicar ao trabalho, o programa capacita o homem do campo para um melhor proveito na atividade em que já atua, abrindo novos horizontes econômicos de emprego e renda”, explicou Menezes.
 
Segundo o coordenador, 1.600 pessoas são beneficiadas hoje no Amazonas pelas atividades do Projovem, das quais 600 estão concluindo a formação iniciada no ano de 2010. “A formação completa tem carga horária de 2.400 horas, sendo que 600 horas são aplicadas exclusivamente em formação técnico-agrícola, que envolve horticultura, apicultura, suinocultura, dentre outros segmentos”, informou Menezes, destacando que para estimular a participação e evitar o abandono os alunos participantes recebem bimestralmente uma bolsa-auxílio de cem reais, pagas pelo Ministério da Educação por meio do FNDE.
 
 
Coordenador de Educação do Campo, professor Antônio Menezes em reunião com cursistas.
 
Formação profissionalizante
    
Atuando como instrutor agrícola do Projovem na comunidade Lago do Limão, em Iranduba, o professor e técnico em agropecuária, Paulo Afonso Simas, 46, acompanhou por dois anos uma turma de 27 alunos e ressaltou que a formação foi intensiva. “Além do conteúdo educacional do ensino fundamental na modalidade de Educação de Jovens e Adultos, os alunos tiveram 600 horas de formação técnica agrícola que resultou na elaboração de uma horta experimental que servirá para a comunidade. Ao longo desse período, focando na horticultura, eles receberam orientação sobre plantio, solo, semeadura, pragas, doenças, fertilização, utensílios e ferramentas agrícolas, plasticultura e agroecologia”, citou.
Segundo Paulo Afonso, de porte destes conhecimentos os estudantes poderão atuar em suas comunidades com mais êxito no ramo agrícola, com melhores perspectivas de renda. 
  
Técnico agrícola Paulo Afonso Dimas instruindo alunos na comunidade Lago do Limão, em Iranduba.
 
À frente da educação escolar na mesma comunidade do Lago do Limão, a professora Maria Roberta dos Santos, 50, licenciada em Ciências pela Universidade Federal do Amazonas, disse que o curso foi marcante para os alunos. “Muitos estavam a mais de dez anos sem estudar e hoje, formados, eles pretendem dar continuidade aos estudos e cursar o ensino médio, que será possibilitado pelo programa ensino mediado por tecnologias do Governo do Estado. É empolgante vê-los tendo uma nova perspectiva de vida a partir dos estudos”, disse a professora.
Para a aluna Tatiana Monteiro da Silva, 28, não há mais espaço para comodismo. “Aprendemos muito durante o curso e queremos ir além. O próximo passo, agora, é cursar o ensino médio”, frisou.